Rússia promete derrubar mísseis dos EUA na Síria; Trump ameaça atacar

 Rússia promete derrubar mísseis dos EUA na Síria; Trump ameaça atacar

A Rússia alertou nesta quarta-feira que vai derrubar qualquer míssil dos Estados Unidos lançado contra a Síria devido a um suposto ataque químico no sábado na cidade de Douma, último reduto rebelde da região de Ghouta Oriental, subúrbio de Damasco, onde o regime do presidente Bashar al-Assad vinha implementando uma ofensiva para reconquistar o território. Após a ameaça russa, o presidente americano Donald Trump disse no Twitter para os russos prepararem para ataques.

“A Rússia promete derrubar qualquer míssil lançado contra a Síria. Prepare-se, Rússia, pois eles estarão vindo, bons e novos e inteligentes. Você não deveria ser parceira de um Animal Assassino com Gás (tóxico) que mata seu povo e gosta!”, ameaçou Trump, em referência ao presidente sírio Bashar al-Assad, acusado de ser o responsável pelo suposto ataque em Douma. “Nossa relação com a Rússia é pior do que nunca, e isso inclui a Guerra Fria. Não há razão para isso. A Rússia precisa nos ajudar com sua economia, algo que seria muito fácil de fazer, e precisamo que todas as nações trabalhem juntas. Parar a corrida armamentista?”, questionou o republicano.

Países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, ameaçam responder fortemente — incluindo opções militares — contra o regime de Assad, ainda que os responsáveis não tenham sido confirmados. O governo sírio, assim como a Rússia, negam a execução de um ataque químico.

A diplomacia russa disse que os mísseis americanos de Trump devem ser dirigidos contra os “terroristas” e não contra Damasco. A Rússia também insinuou que a ofensiva americana contra a Síria pode servir para “apagar os vestígios das provocações” que os ocidentais denunciam como um ataque químico no reduto rebelde de Duma.

“Os mísseis inteligentes devem voar na direção dos terroristas e não do governo legítimo sírio, que luta há vários anos contra o terrorismo internacional em seu território”, declarou no Facebook a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova. “A ideia seria apagar rapidamente os vestígios das provocações mediante o lançamento de mísseis inteligentes e assim os investigadores não teriam nada a achar como provas”.

Segundo o embaixador russo no Líbano, Alexander Zasypkin, os locais de lançamento dos projéteis americanos também serão atacados, levantando a possibilidade de um confronto entre Moscou e os Washington. Emitindo o alerta na noite de terça-feira, Zasypkin também disse que tal confronto deveria ser evitado e que Moscou está pronto para negociações. Entretanto, seus comentários podem elevar temores do primeiro conflito direto entre duas grandes potências que apoiam lados opostos na prolongada guerra civil da Síria.

— Se houver um ataque pelos americanos, então (…) os mísseis serão derrubados e até mesmo as fontes de onde saíram os mísseis — disse ele à emissora do Hezbollah, al-Manar TV.

SÍRIA: ‘INVENÇÕES E MENTIRAS’ DOS EUA

O Ministério do Exterior da Síria acusou os Estados Unidos de usar “invenções e mentiras” como desculpa para mirar seu território, informou a mídia estal.

“Não estamos surpresos com tamanha escalada impensável por um regime como os Estados Unidos, que patrocinava o terrorismo na Síria e ainda o faz”, relatou a agência estatal Sana, citando um autoridade do órgão sírio.

Em Moscou, o governo russo também advertiu contra qualquer ação na Síria que possa “desestabilizar a já frágil situação da região”, após ameaças ocidentais de bombardear pontos estratégicos sírios em reação a um suposto ataque químico

— Como antes, esperamos que todas as partes evitem qualquer ação que em caso algum seria justificada e que pudesse desestabilizar a já frágil situação da região — declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que caracterizou o contexto atual como “muito tenso”. — A Rússia é favorável a uma investigação objetiva e imparcial antes de emitir qualquer julgamento.

EMPRESAS MUDAM ROTAS DE VOOS

Diante da possibilidade de confronto entre os dois países, grandes companhias aéreas deslocaram rotas para evitar o espaço aéreo sírio. A agência da União Europeia, Eurocontrol, emitiu nota de que mísseis aéreos poderiam ser lançados nas próximas 72 horas, com possibilidade de interrupçao intermitente do equipamento de navegação a rádio.

A AirFrance alterou a rota de suas aeronaves, sobretudo de voos para Beirute e Tel Aviv, enquanto Ryanair, British Airways, Etihad Airways e Royal Jordanian informaram que os voos operam normalmente enquanto monitoram a situação de perto. A Emirates disse que fará ajustes se necessário.

OMS EXIGE ACESSO A LOCAL ATACADO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) exigiu acesso livre à Douma para verificar relatos de organizações médicas parceiras de que ao menos 500 pessoas foram afetadas pelo ataque químico, informou a BBC nesta quarta-feira. Segundo a entidade internacional, 70 pessoas morreram. Os agentes médicos relataram sintomas nas vítimas como dificuldade respiratória, irritação nas membranas do nariz e perturbação do sistema nervoso central.

“Duas instalações de saúde também foram afetadas por esses ataques”, disse a OMS em comunicado assinado pelo doutor Peter Salama. “Deveríamos todos nos sentir indignados sobre esses relatos horríveis e imagens de Douma. A OMS exige acesso livre imediato à área para fornecer assistência aos necessitados, avaliar impactos de saúde e entrar uma resposta de saúde pública abrangente”.

A OMS não tem acesso à maior parte de Ghouta Oriental, de onde os rebeldes opositores a Assad estão saindo após um acordo com o governo sírio, apoiado pela Rússia. Milhares de civis permanecem presos em Douma, informou na terça-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que disse que mais de 133 mil pessoas tinham fugido da região insurgente no último mês.

DEBATE FRACASSADO NA ONU

Duas novas propostas para estabelecer responsabilidades sobre o uso de armas químicas na Síria fracassaram no Conselho de Segurança da ONU na terça-feira. Com a Rússia usando seu poder de veto para barrar um projeto de resolução dos EUA, e vice-versa, o órgão não chegou a um consenso sobre responsabilizar atores do conflito por ataques em massa.

A Rússia vetou nesta terça-feira uma proposta de resolução do Conselho de Segurança da ONU para criar um novo inquérito a fim de investigar responsabilidades por ataques com armas químicas na Síria. Doze membros do conselho votaram a favor, enquanto a Bolívia se juntou à Rússia na negativa, e a China se absteve. Foi a sexta vez que Moscou blindou o regime aliado de Bashar al-Assad de inquéritos sobre o tema no Conselho de Segurança.

Para ser aprovada, uma resolução precisa de nove votos a favor e nenhum veto de Rússia, China, França, Reino Unido ou Estados Unidos.

Depois do veto ao projeto americano, a proposta russa, que previa uma investigação com menos recursos, acabou derrotada: teve seis votos a favor, sete contrários e duas abstenções. Os países ocidentais acusaram Moscou de tentar imprimir um projeto de um organismo não independente e pró-regime para investigar.

OPAQ INVESTIGARÁ ATAQUE

O governo sírio, em um movimento inédito, convidou na terça-feira a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), ligada à ONU, a visitar o reduto rebelde para investigar o suposto ataque químico. A organização anunciou na terça-feira que enviaria uma equipe à região, pedindo que o governo sírio tomasse as providências necessárias para viabilizar a viagem.

No sábado, o grupo de defesa civil Capacetes Brancos, organização de defesa civil que atua em zonas sob controle de grupos da oposição, divulgou vídeos do suposto ataque em Douma, no qual aparecem vítimas, muitas delas crianças — algumas sendo atendidas com máscaras de oxigênio, outras mortas, empilhadas. Nenhum órgão, porém, conseguiu confirmar de forma independente a origem do ataque e nem quantos morreram.

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre LF News -

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading